segunda-feira, 3 de setembro de 2012

PAUL BRUNTON: NO TEMPLO DE DENDERAH

O texto que segue abaixo foi extraído do livro "O Egito Secreto" que Paul Brunton escreveu em 1935, sendo publicado pela Editora Pensamento aqui no Brasil em 1967.
Embora longo, o texto merece ser lido não só pelas informações interessantes passadas por Brunton, como também uma forma de reconhecer e reverenciar os esforço do autor, que, com os poucos recursos tecnológicos (ou quem sabe talvez nenhum) daquela época,  trouxe para o mundo moderno, o conhecimento e a sabedoria do povo egípcio.
Convido você também para ler a postagem que foi publicada hoje no Setas para o Infinito:
Boa leitura! 
Templo de Hathor - Dendera
Antes de deixar um pequeno santuário dos Mistérios situado no terraço do templo de Denderah, voltei minha atenção ao notável Zodíaco esculpido no teto. Sabia que representava apenas uma cópia do original que há mais de um século foi retirado e transportado para Paris, porém, mesmo assim, era uma cópia fiel e perfeita.
O grande emblema circular, em cuja circunferência estavam esculpidas imagens de animais, homens e deuses, era rodeado pelos doze conhecidos signos do Zodíaco. E para completar o maravilhoso simbolismo, as efigies de doze diversos deuses e deusas, alguns de pé, outros ajoelhados, todos com os braços levantados, estavam colocados em volta, apoiando as mãos no disco como que ajudando-o a girar.


Reprodução colorida do teto de Dendera por Domênico Valeriano - 1835

Desse modo, naquela gráfica representação ficou gravado fiel, ainda que simbolicamente, todo o universo com seu movimento perpétuo, como uma recordação dos mundos que se movem rítmicamente no espaço, e provoca nos mais céticos de mente sensível um sentimento de admiração, levando-os até a Inteligência Sublime que modelou este Universo.
Se quisermos interpretar corretamente o Zodíaco de Denderah, temos que ver nele uma descrição dos céus em determinada época do passado. Qual foi essa época é outro assunto; não vamos, pois, entrar aqui no campo da astronomia abstrusa com a qual estamos pouco familiarizados. Basta dizer que a disposição de constelações que representa, não coincide com a que vemos atualmente no céu.
A posição do equinócio da primavera indicada no Zodíaco de Denderah, difere da sua posição atual, implicando a entrada do Sol numa constelação de outro nome.
Como se produziu essa grande mudança?? Devido ao movimento da Terra, o eixo do nosso globo aponta sucessivamente a diferentes Estrelas Polares. Isto realmente significa que o nosso Sol se locomove em torno de outro sol. Este movimento quase imperceptível de retrocesso de equinócio, tão extenso em número de anos e tão lento em movimento, muda também as posições do nascimento e ocaso de certas estrelas em relação a certas constelações. Sabemos pelo cálculo médio do movimento dessas estrelas, quantas dezenas de milhares de anos decorreram desde sua primeira posição. O intervalo de tempo é denominado a Grande Precessão, ou também a "precessão dos equinócios". Pois a intercessão do Equador com a Eclíptica que marca o equinócio da primavera, é deslocada lentamente devido a esta precessão.
Dito de outra forma, significa que as estrelas recuam numa direção contrária à ordem dos doze signos do Zodíaco, numa diminuta fração de espaço por ano. Este grande movimento dos céus, este lento deslocamento do Universo, forma uma relógio cósmico, cujo disco é todo o firmamento, e nele podemos ler para diante e para trás e notar as revoluções planetárias ocorridas durante milhares de anos.
Examinando um antigo mapa dos céus, o astrônomo pode deduzir o período exato em que foi traçado. Os que escrutam o passado podem achar, às vezes, nesses mapas, chaves de imensa importância astronômica. Quando os sábios que Napoleão levou consigo ao Egito descobriram o Zodíaco de Denderah, entusiasmaram-se, crentes de que poderia dar-lhes uma chave para determinar a idade da civilização egípcia. Porquanto esse Zodíaco situava o equinócio da primavera muito além da sua posição atual. Entretanto, alguns anos depois, ao se descobrir que o templo havia sido levantado na época greco-romana e que o Zodíaco havia sido misturado com um outro Zodíaco grego, o assunto foi encerrado e ninguém mas se ocupou dele.
A concepção de que este Zodíaco é inteiramente grego, é errônea. Então, jugar-se-ia que os egípcios não tinham Zodíaco? Será que os sacerdotes estudavam astronomia durante todos esses inúmeros anos sem o Zodíaco e esperavam que os primeiros barcos gregos tocassem a extensa, baixa e arenosa costa do Egito, guiados por um mapa do céu com suas doze constelações? Como aquele clero que venerava tato a astrologia que fazia parte da sua religião, teria então praticado seus sistema sem um Zodíaco? Não; pois se é que havia algum ramo de conhecimento do qual se orgulhavam os sacerdotes, era precisamente a astrologia.
A explicação mais razoável é que os egípcios copiaram um parte do Zodíaco de outro que havia existido anteriormente em Denderah, cujo templo foi destruído e reconstruído mais de duas vezes. É natural que tenha sido copiada e recopiada uma representação astronômica tão extraordinária como esta, mesmo que fosse para conservá-la. Aliás, isto fizeram com os outros documentos antigos, que lentamente caíram no esquecimento, até seu completo desaparecimento com a desaparição dos arquivisitas, isto é, dos antigos sacerdotes.
Os arqueólogos desenterraram na Mesopotâmia as antigas lousas de cerâmica caldéias, nas quais os astrônomos caldeus haviam anotado que a primavera começava quando o Sol estava na constelação de Touro. Como durante a era cristã, a primavera começa quando o Sol estiver na constelação de Áries, isto é, cerca de 21 de Março, a implicação é que essa tremenda mudança de clima data a civilização caldéia como uma das mais remotas, uma antiguidade que os próprios caldeus asseveravam. Assim também a posição do equinócio marcada no Zodíaco de Denderah faz referência a uma época que remonta não somente a séculos, mas a centenas de séculos! Marca assim a primitiva civilização egípcia. A posição indica que mais de trés e meio "Grandes Anos" se haviam passado no disco cósmico, que o Sol tinha feito não menos de três voltas e meia ao redor do seu pai, o Sol. Estudando cuidadosamente as estatísticas, veremos que a variação média da precessão dos equinócios é de uns 50,2 segundos por ano; fazendo cálculo retrospectivo, podemos percorrer toda a circunferência dos céus e chegaremos ao ponto indicado pela posição do Zodíaco de Denderah. O grande círculo do Zodíaco tem 360 graus; isto quer dizer que, com a variação da precessão, um "Grande Ano" teria 25.800 anos solares.
Cada sucessão completa dura, portanto, então 25.800 anos, e um pequeno cálculo revela que se tinham passado pelo menos 90.000 anos desde a data marcada no Zodíaco do templo de Denderah.
Noventa mil anos! Será esta cifra realmente inacreditável, realmente impossível? Os sacerdotes-astronômicos egípcios não pensaram assim, porquanto, segundo as informações que temos do historiador grego Heródoto, esses sacerdotes lhe disseram que o povo egípcio considerava sua raça como a mais antiga da humanidade, e que essa informação eles tomaram dos arquivos resguardados nos seus templos e colégios sacros, cujos papiros remontavam a 12.000 anos antes da sua visita. Sabemos quão cuidadoso era Heródoto a respeito dos fatos aos quais recorria, tanto que mereceu o justo título de "Pai da História". Na ocasião também lhe disseram os sacerdotes que "o Sol havia se levantado duas vezes onde agora se põe e duas vezes se havia deitado onde agora se levanta". Desta extraordinária declaração podemos deduzir que os pólos do orbe mudaram completamente sua posição anterior, provocando imensos deslocamentos de água e terra. Pelas pesquisas geológicas sabemos que esses deslocamentos realmente ocorreram; mas suas datas nos levam a períodos tremendamente longínquos.
Uma das consequências dessas mudanças foi a troca de clima anteriormente tropical dos pólos, por um ártico que vigora atualmente. Hoje, por exemplo, não se discute mais que o norte da Europa, inclusive as Ilhas Britânicas, esteve coberto alguma época passada por imenso mar de gelo de muitas dezenas de metros de espessura, enchendo os vales dos quais sobressaíam só os picos das montanhas e colinas mais elevadas. Esse estado do planeta somente pode haver sido ocasionado por tremendos cataclismos geológicos.
A declaração dos sacerdotes egípcios foi portanto exata.
Pois bem. Eles não possuíam a ciência moderna da geologia, nem nada além das suas velhas crônicas hieroglifadas nos papiros, esculpidas nos obeliscos de pedra, talhadas nas tábuas de argila ou gravadas nas placas de metal. Havia também uma doutrina e uma história secreta, tradicional, que eram comunicadas só nos Mistérios, sendo, portanto, transmitidas verbalmente de boca ao ouvido durante um número incalculável de séculos.
Como então puderam os sacerdotes conhecer essas revoluções planetárias, ignoravam geologia, se não as conhecessem pelas crônicas que possuíam? O fato  de que as conheciam, confirma sua asseveração de que essa crônica existia, e explica igualmente a existência de zodíacos originais dos quais foi copiado parcialmente o do templo de Denderah.
À luz desse fatos, já não se torna tão impossível o lapso de noventa mil anos. Entretanto, isto não significa que a cultura egípcia haja existido necessariamente no território egípcio desde o início; o povo e a sua cultura podem ter existido em algum outro continente, e só posteriormente, emigrado para a África - detalhe que, embora não corresponda ao argumento em questão, pergunto por que receamos aceitar o fato deles terem existido?
Nossas histórias do Egito começam com a primeira dinastia, porém devemos recordar que o país estava povoado desde muito tempo antes da época à qual fazem menção os primeiros documentos que possuímos. A história das raças primitivas dos egípcios e os nomes de seus reis são desconhecidos... para os egiptólogos. A história primitiva do Egito está relacionada com a última história da Atlântida. Os sacerdotes egípcios, que eram também astrônomos, tomaram emprestado o zodíaco dos atlantes. Eis a razão por que o Zodíaco de Denderah pode mostrar revoluções da nossa era histórica.
Somos gratos por cada nova descoberta de vestígios da civilização primitiva e a recebemos com exclamação de surpresa. Pois, conforme as ideias modernas do "progresso", deveríamos esperar, logicamente, ser esse povo rude, atrasado e bárbaro; no entanto, achamo-lo culto, refinado e religioso.
Comumente damos crédito à ideia de que, quanto mais retrocedemos em nossa investigações no passado da humanidade, tanto mais nos aproximamos do estado de primitivismo selvagem. É certo que, embora em alguns períodos remotos da pré-história, existissem homens selvagens, também coexistiram simultaneamente homens cultos e civilizados. A ciência que já esboçou a idade do mundo no planeta em cifras que deixaram atônita a limita imaginação de homem, todavia, não reuniu ainda um material suficiente para dar a imagem exata das eras pré-históricas e da vida humana nessas eras. A ciência, porém, avança, e algum dia logrará nos trazer esse quadro. Entrementes, não nos apressemos demasiado, como o fazem muitos, ao negarem nos 90 mil an0s registrados nos templos dos sacerdotes egípcios, concedendo-lhes no máximo 5 ou 6 mil anos.
A idade do nosso planeta oferece constante e silenciosa censura aos homens que julgam tão mediocremente a idade do universo. Nas infinitas profundezas do firmamento existem estranhos cemitérios dos céus, onde as estrelas e planetas frios que algum tempos testemunharam o fausto e a pujança das civilizações passadas, sofrem agora a hora turva de sua final dissolução.

Fonte: O Egito Secreto - Paul Brunton - Editora Pensamento 1967.


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