quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O AMOR, SOBERANO DESÍGNIO DA CRIAÇÃO


por Rubens C. Romanelli
"Só o amor, efetivamente, pode redimir-nos, porque só ele pode conduzir-nos à plenitude beatífica do ser. Só ele nos eleva acima das solicitações grosseiras da materialidade, por isso que só ele nos permite transbordar as fronteiras angustiantes de nossa consciência cerebral, para a realização de uma consciência a um tempo mais vasta e mais profunda, frente a cuja expansão ruirão sucessivamente todas as barreiras erguidas pelo egoísmo individual e coletivo. Será a consciência cósmica, peculiar a quantos hão atingindo os mais altos níveis do ser e da vida.
Só o amor pode solidarizar-nos, porque só a relação pelo amor é perfeita, é completa. Quem ama verdadeiramente desconhece qualquer oposição entre o próximo e o distante, entre o passado e o futuro, entre a causa e o efeito, entre a substância e o acidente, porquanto o amor não se subordina às categorias mentais do espaço e tempo, de ação e reação, de sujeito e objeto. Ele não nasce das injunções da moral social, nem das prescrições da moral religiosa; é, antes, qual olorosa e delicada flor que brota espontaneamente das forças da vida.
O verdadeiro amor não se impõe como um fardo, nem se preceitua como um sacrifício, porque ele não é meio para atingir um fim, nem condição para a posse de um bem: é antes, o fim e o bem mesmos.
A felicidade, em última análise, não se condiciona, como reação, a uma ação calculada interesseira, mas é a substância mesma da própria ação de exercer o bem, na qual está direta e imediatamente contida. Eis por que, segundo nos lembra "A Grande Síntese", o santo, na volúpia da ascese, se deixa martirizar tranquilamente pelo semelhante; o herói, transfigurado de paixão, se sacrifica serenamente por seu povo, e o gênio, transbordante de alegria, se consome lentamente pelo bem da humanidade. Sob esses estranhos rasgos de abnegação e altruísmo, de desprendimento e renúncia, a alma se agita em espasmos de gozo, dominada por inefável e extraordinário prazer, o prazer místico e divino de amar.
Nessa altura, o amor transumaniza-se, sublima-se e matamorfoseia-se em puro gozo do espírito, em supremo deleite dos anjos. Espraiando-se além de todos os níveis e dimensões concebíveis, o indivíduo se sente identificado com Deus, que é a mais alta expressão de Amor.


Tudo nasce dele e pára ele: as pedras e as plantas, os animais e os homens, a terra e o céu, o mar e as estrelas; tudo foi concebido por obra e graça do amor. A Criação nasceu num arroubo divino de amor, porque nela tudo é harmonia e beleza, e a harmonia e a beleza são filhas do amor.
Só o amor é capaz de grandes construções, porque só ele une: não há construção sem união, nem união sem amor!
A afinidade atômica, a coesão molecular, a atração sexual, a gravitação universal, tudo, no nível que lhe é próprio, representa uma modalidade de amor. Em tudo quanto suscita em nós o senso ético e estético avulta a função construtiva do amor. Irmãos, aprendamos com a Natureza a sublime lição do amor!"


Fonte do texto e das imagens:
"O Primado do Espírito", 3ª Edição ampliada,1965 - pag.127-129 - Editora Síntese - Divinópolis/MG
Artigo publicado no jornal "O Espírita Mineiro", Ano 102 - Julho/Setembro-2009 - número 310 - União Espírita Mineira
Imagem 1:
Wikipédia
"A Criação de Adão" - Michelangelo Buonarroti,1511 - Teto da Capela Sistina -Roma
Imagem 2:
Wikipédia "O Nascimento de Vênus" - Sandro Botticelli, 1483 - Galeria degli Uffizi (Florença).

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